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5G vem aí: entenda por que o leilão do Brasil foi o maior do mundo

Ministro das Comunicações, Fábio Faria, durante sessão do leilão do 5G, em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
Ministro das Comunicações, Fábio Faria, durante sessão do leilão do 5G, em Brasília Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

De Tilt, em São Paulo*

07/11/2021 04h00

O leilão para a exploração e oferta do 5G no Brasil terminou na sexta-feira (5) definindo quais empresas poderão levar a internet móvel de última geração aos brasileiros a partir de 2022. Ao todo, o certame rendeu R$ 46,790 bilhões.

Trata-se do maior leilão de faixas de frequência da história do país —para se ter uma ideia, a venda das faixas do 3G rendeu R$ 7 bilhões; do 4G movimentou R$ 12 bi; e a privatização da Telebras, R$ 22 bi. Para analistas, incluindo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) foi também o maior leilão de 5G do mundo.

O motivo para esse sucesso tem a ver com a quantidade de faixas de radiofrequência e o tamanho de cada uma. Foram vendidas quatro bandas: 700 MHz; 2,3 GHz; 26 GHz e 3,5 GHz —esta última, que é a mais usada pelo 5G no mundo, teve mais de 400 Mhz de largura de espectro em oferta.

O bolo do 5G

Calma que a gente explica. Pense no 5G como um bolo, em que cada uma dessas faixas de frequência é representada por uma camada de recheio. A Claro, por exemplo, abocanhou uma fatia com três camadas: a de 3,5 GHz; a de 2,3 GHz; e a de 26 GHz. Já a novata Brisanet pegou uma fatia só com 3,5 GHz e 2,3 GHz.

Embora as duas tenham levado para casa um pedaço da camada de 3,5 GHz, o tamanho da fatia foi menor para cada uma. A Claro levou uma fatia larga, de 100 Mhz, enquanto a Brisanet ficou só com um corte de 80 Mhz, destinado especificamente ao Nordeste e ao Centro-Oeste do Brasil.

O que importa, porém, é o tamanho do bolo, que permitiu não só que empresas mais tradicionais como Claro, Vivo e Tim participassem, mas deu espaço também para a entrada de novas operadoras que até agora não forneciam internet móvel para tantas regiões do país.

Ao todo, o "bolo" do 5G tinha 3,7 GHz em diâmetro de capacidade espectral:

  • 400 MHz nos 3,5 GHz;
  • 20 MHz nos 700 MHz;
  • 90 MHz nos 2,3 GHz;
  • 3,26 GHz nos 26 GHz.

"Nunca vi tanto espectro sendo leiloado assim de uma única vez", comentou Francisco Soares, então vice-presidente de relações governamentais da Qualcomm, maior fabricante de processadores para celulares do mundo, em entrevista concedida a Tilt em 2020.

"Se você somar as frequências que as operadoras têm em uso com 2G, 3G e 4G dá uns 600 MHz. O leilão trará mais de seis vezes o que a gente tem em operação hoje", acrescentou Tiago Machado, então diretor de relações institucionais da Ericsson, que fabrica equipamentos de telecomunicação, na mesma ocasião.

Quatro leilões em um

Vale lembrar que o leilão do 5G não foi só do 5G. Segundo Leonardo Euler Morais, que terminou seu mandato como presidente da Anatel no primeiro dia do leilão, foram "quatro leilões em um", considerando o número de faixas disponíveis.

Além disso, partes das frequências que foram vendidas serão usadas, a princípio, para o 4G e são uma espécie de "sobra" de outra licitação. É o caso da faixa de 700 MHz.

Em 2014, Tim, Claro e Vivo arremataram porções do espectro que já estão sendo usadas para oferecer 4G com maior alcance —o modelo inicial adotado no país era o que operava na faixa dos 2,5 GHz. Dessa vez, quem levou os 700 MHz foi a startup Winity, de São Paulo.

Para o 5G comercial serão usadas as faixas do 3,5 GHz e do 26 GHz. Esta última é chamada de faixa milimétrica e oferece alta capacidade de transmissão, o que inclui também maior velocidade.

Vivo e Claro, que arremataram a parcela nacional do 26 GHz, em contrapartida terão que levar internet de qualidade para escolas públicas. Mas muitos lotes dessa faixa não chegaram a ser vendidos para ninguém.

Segundo Abraão Balbino, presidente da Comissão de Licitação do Leilão das frequências do 5G, isso aconteceu porque a faixa se refere a uma iniciativa exploratória. Com isso, existem incertezas por parte das empresas de como a tecnologia poderá ser implementada.

"A gente disponibilizou muito espectro para ver até onde ia. Obviamente há incertezas e eu entendo que isso faz com que haja um desejo um pouco menor nessa faixa do que em outras. Mas isso é esperado. Todo leilão tem sobras de espectro", explicou durante entrevista coletiva após o leilão, na sexta.

*Com reportagens de Helton Simões Gomes, Abinoan Santiago e Letícia Naísa