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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Teremos uma Ucrânia Ocidental e uma Ucrânia Oriental?

Thiago de Aragão, analista político

28/03/2022 07h43Atualizada em 28/03/2022 08h00

Nos últimos dias, o chefe da Inteligência militar ucraniana, general Kyrylo Budanov, vem afirmando que a possibilidade de termos num futuro próximo uma Ucrânia Ocidental e uma Ucrânia Oriental é real. Com a dificuldade inesperada do Exército russo em conquistar Kiev e se consolidar como a força dominante nas principais cidades do país, a estratégia russa pode estar mudando diante do fracasso de tomar importantes centros urbanos do país.

A estratégia russa inicial visava um ataque rápido, avassalador, que derrubaria as capacidades de defesas ucranianas assim como o governo de Volodymyr Zelensky. Como temos visto ao longo do último mês, os russos conseguiram gerar uma capacidade enorme de destruição, mas sem atingir o objetivo de derrubar o governo ucraniano ou ocupar a capital Kiev.

Ao longo das últimas semanas, as narrativas de justificativas russas para a invasão variam desde a proteção dos separatistas na região de Kiev, passando pela busca da neutralidade ucraniana, até o insólito argumento de "desnazificação" do país. Na prática, os russos não estão sabendo muito bem qual seria o objetivo final, já que o controle absoluto do país se torna cada vez mais remoto.

Diante desse quadro, o general Budanov entende que o foco russo deve começar a deixar de lado Kiev e outras grandes cidades no centro e no oeste do país, para focar na margem leste do rio Dnipro, que corta a Ucrânia ao meio.

Ucrânia partida em duas

Garantindo a proteção do Donbass e da Crimeia, conquistando Kharkiv e Mariupol, os russos podem consolidar sua presença no leste do país, atingindo um novo objetivo que seria, na visão de Budanov, criar uma república subserviente a Moscou, na margem oriental do rio Dnipro.

Assim, segundo Budanov, a Ucrânia poderia ser repartida em dois, gerando a narrativa interna necessária para que Vladimir Putin argumente que a "operação militar" tenha sido um sucesso e criando um estado tampão entre a Ucrânia "europeizada" e a Rússia.

Zelensky se mostra mais uma vez disposto a se engajar em negociações, atendendo algumas das demandas originais russas, que incluem a declaração de neutralidade, garantias de não adesão à Otan e garantias futuras de que o país não buscará um programa nuclear próprio.

No entanto, Zelensky deixou claro que não aceita a demanda/narrativa russa de que um processo de desnazificação deva ocorrer, já que nem para Zelensky, nem para o povo ucraniano e para a comunidade internacional essa demanda russa faz sentido.

Uma nova rodada de negociações se iniciou nesta semana em Istambul, na Turquia. Americanos e outros membros da Otan olham com ceticismo essa nova rodada de conversas, já que entendem que o objetivo primordial dos russos é gerar uma expectativa de acordo enquanto ganham tempo para reorganizar suas tropas logística e estrategicamente.

Caso Budanov esteja correto, isso criaria uma nova Cortina de Ferro na Europa, englobando a Belarus e uma Ucrânia repartida, aumentando as tensões nos países bálticos, que atuam como um enclave da Otan na fronteira com a Rússia.

Os líderes de Estônia, Letônia e Lituânia vêm afirmando com bastante frequência que necessitam de uma maior presença de tropas da Otan em seus países, já que acreditam que poderiam ser novos alvos dos russos no caso de uma escalada.