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Por que as pessoas desmaiam na montanha-russa? Emoção pode não ser o motivo

Maria Júlia Marques

Do UOL, em São Paulo

11/10/2016 06h00

Você já se deparou com um vídeo de alguém que vai ao parque de diversão feliz da vida, mas acaba desmaiando ao entrar na montanha-russa? Pois é, imagens de situações assim rendem milhares de "curtidas" nas redes sociais, mas passar mal em um brinquedo radical não é piada.

Para saber o que acontece com os aventureiros que "apagam" no brinquedo é preciso entender que o cérebro controla a rotina do nosso corpo a partir do sistema nervoso autônomo, uma rede que liga os outros órgãos ao cérebro e envia relatórios informando se está tudo certo.

"Todos os movimentos do organismo que você não pensa para fazer, como o funcionamento dos órgãos, são respostas de sensores que ficam espalhados por todos os lugares do corpo", afirma Denise Tessariol Hachul, cardiologista do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Os movimentos da montanha-russa e a adrenalina causada podem causar mal-entendidos no relatório enviado para o cérebro. 

Deu tranco?

Montanha russa - Reprodução/Pinterest - Reprodução/Pinterest
Imagem: Reprodução/Pinterest
 Um dos motivos do desmaio pode ser o movimento brusco. Quando sofremos um grande impacto, como na queda ou na subida de uma montanha-russa, nosso corpo se mexe muito rápido.

"Por exemplo, mesmo que o coração continue pulsando, em alta velocidade o fluxo do sangue é afetado e acompanha o movimento da força que você recebe, influenciando na circulação por alguns instantes", diz Denise.

No "tranco" do brinquedo, a corrente sanguínea fica "perdida" e tem dificuldade de voltar a circular normalmente. Assim os sensores avisam o cérebro que algo está errado no fluxo do sangue. O cérebro, por sua vez, pode decidir 'reiniciar' o corpo -como fazemos com computadores que travam-, para ver se o organismo volta a funcionar sem problemas. Ou seja: desmaiamos.

"Nossos vasos sanguíneos são sensíveis à pressão. Em uma mudança brusca de posição, a circulação não funciona adequadamente. O sangue não chega ao cérebro com a eficácia que deveria e isso também causa o desmaio", explica o neurologista André Carvalho Felicio, do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Foi muita emoção?

30.set.2016 - Pessoas se aventuram em montanha-russa em Munique, na Alemanha - Kai Pfaffenbach/ Reuters - Kai Pfaffenbach/ Reuters
Corajosos se aventuram em montanha-russa em Munique, na Alemanha
Imagem: Kai Pfaffenbach/ Reuters
Quando ficamos muito nervosos ou emocionados, nosso corpo libera adrenalina. 

"Em situação de risco ou muito estresse, o organismo libera adrenalina como mecanismo de defesa", explica Denise.

O excesso de adrenalina no sangue, que acelera o coração, pode levar ao desmaio. No entanto, isso não acontece com todas as pessoas. 

Faz mal para a saúde?

Caso o desmaio aconteça uma vez e tenha sido desencadeando por uma situação atípica, como a montanha-russa, não traz problemas de saúde.

O importante é entender o porquê do desmaio. Analisar a alimentação, hidratação, se há histórico de doenças que levam ao desmaio com mais facilidade, como pressão baixa. Ou se foi uma resposta momentânea"

Paulo Camiz, clínico geral do hospital das Clínicas, em São Paulo.

Caso a pessoa "desligue" diversas vezes, a preocupação aumenta, principalmente se ela tiver alguma doença. Por exemplo, problemas cardíacos somados a adrenalina e os desmaios podem terminar em um infarto. A pressão muito baixa pode levar a um derrame.

"As sequelas mais graves vêm de desmaios prolongados e são efetivamente raras. Pode existir, mas é incomum. Normalmente a pessoa vai acordar e achar que está tudo bem", diz Felicio, do Einstein.

Quando a pessoa desmaia na montanha-russa, ela não se lembra de ter passado mal. No entanto, as lembranças do incidente podem ficar em formas de machucados pelo corpo e dores de cabeça.

"Desmaiado, você perde completamente o tônus muscular, o que deixa seu corpo mole e pode causar traumas ortopédicos. Você pode bater a cabeça, os braços e as pernas, e sair com ferimentos e partes do corpo doloridas", afirma Denise.