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Lava Jato bloqueia R$ 113 milhões de Paulo Preto em banco nas Bahamas

Paulo Preto está preso e condenado na Operação Lava Jato duas vezes, mas ainda responde a vários outros processos - Mateus Bruxel/Folhapress
Paulo Preto está preso e condenado na Operação Lava Jato duas vezes, mas ainda responde a vários outros processos Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

24/06/2019 17h17

A força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba conseguiu o bloqueio de cerca de R$ 113 milhões, de acordo com o câmbio atual, depositados em um banco no paraíso fiscal das Bahamas, na América Central. A conta é ligada a Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e acusado de ser o operador de propinas do PSDB em São Paulo durante o governo do senador tucano José Serra (2007-2010).

Hoje, Souza foi denunciado pelo MPF na Operação Lava Jato em Curitiba por ajudar um suposto operador de propinas da Odebrecht, o advogado Rodrigo Tacla Duran (atualmente na Espanha, foragido da Justiça brasileira), a lavar dinheiro ilícito.

Na Lava Jato de São Paulo, Paulo Preto já foi condenado duas vezes por crimes ligados à construção do Rodoanel Mário Covas, na região metropolitana da capital paulista, em uma das sentenças a 145 anos, e na outra a 27 anos de prisão.

De acordo com a denúncia oferecida pelo MPF, informações passadas em colaboração pelas autoridades da Suíça indicavam que Paulo Preto mantinha quatro contas no banco suíço Bordier & Cie., com saldo total ao equivalente a cerca de R$ 135 milhões, em nome da empresa offshore panamenha Groupe Nantes S/A, da qual ele era o beneficiário e controlador. As contas foram abertas quando Paulo Preto virou diretor de engenharia da Dersa, em 2007, e foram fechadas quando ele já era investigado na Operação Lava Jato, no início de 2017.

De acordo com o MP (Ministério Público) do país europeu, o saldo foi transferido para uma conta da mesma empresa em um banco nas Bahamas, o Deltec Bank & Trust Limited, em Nassau. Em contato com as autoridades do país caribenho, os procuradores da Lava Jato solicitaram a cooperação judicial, atendida parcialmente pelas autoridades daquele país em resposta datada do dia 10 de junho deste ano.

"Sete vultosas transações"

Antes do bloqueio, porém, Souza conseguiu fazer pelo menos sete transferências da conta em Nassau para outros países, nos anos de 2017, 2018 e 2019, no valor total de US$ 1,5 milhão e € 3,7 milhões: duas transações em dólares para a Well Trend Corporation Limited, em uma conta de um banco de Hong Kong, duas transações em dólares para um beneficiário ainda desconhecido nas Ilhas Cayman, outro paraíso fiscal, e três depósitos em euros para um escritório de advocacia em Portugal.

"De fato, a partir dos extratos da conta bancária número 1000430-00 mantida no Deltec Bank & Trust Limited e swifts encaminhados pelas autoridades das Bahamas, verifica-se que Paulo Vieira de Souza efetuou pelo menos 7 vultosas transações suspeitas antes do congelamento de seus ativos pela instituição financeira", diz a denúncia apresentada pelo MPF nesta segunda-feira.

Os depósitos para o escritório de advocacia em Lisboa chamaram a atenção dos procuradores, pois são justificados no sistema do banco como "empréstimos", sem maiores esclarecimentos.

Procurada pelo UOL, por meio de sua assessoria de imprensa, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba confirma o congelamento da conta pelas autoridades das Bahamas. De acordo com o MPF, porém, estes valores são os identificados inicialmente pelos investigadores no país caribenho e podem surgir novos valores, tanto de entrada quanto de saída na conta, além de novas informações conforme a investigação avança.

A reportagem também procurou o advogado de Paulo Preto, Alessandro Silvério, mas ele não retornou o contato até a publicação desta reportagem.

As contas de Paulo Preto na Suíça foram reveladas no início do ano passado, após colaboração espontânea do MP do país europeu com a Lava Jato. No início deste ano, em retificação de declarações de Imposto de Renda à Receita Federal, Souza admitiu ser o dono das contas na Suíça, mas não ficou claro sua intenção, do ponto de vista legal, ao admitir o patrimônio incompatível com sua renda.