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Amazônia registra o maior desmatamento anual desde 2008

Área de desmatamento em Apuí (AM) é registrada em imagem aérea durante "Operação Área Verde", realizada pelo Ibama - Bruno Kelly/Reuters
Área de desmatamento em Apuí (AM) é registrada em imagem aérea durante 'Operação Área Verde', realizada pelo Ibama
Imagem: Bruno Kelly/Reuters

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

18/11/2019 10h47Atualizada em 18/11/2019 14h42

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) informou hoje que o desmatamento anual na Amazônia medido entre 1º de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019 é o maior para o período em um intervalo de 10 anos

O monitoramento anual do desmatamento na Amazônia Legal é o feito pelo Prodes e apontou 9.762 km² de área atingida.

O número representa uma alta de 29,5% em relação ao registrado no ano passado. Entre 2017-2018, o desmatamento foi de 7.536 km².

No período 2007-2008, a área atingida ficou em 12.911 km². A Amazônia Legal é formada por - Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

"Desde 2012 estamos vivendo um crescimento", disse o presidente do Inpe, Darcton Policarpo Damião. Rondônia, Pará, Mato Grosso e Amazonas representaram 84% desse desmatamento.

"A Amazônia legal é formada por nove estados, mas o comportamento deles, em termo de desmatamento, é muito distinto. O Pará sozinho tem quase 40%", completou Damião.

Governo culpa atividade ilegal e promete medidas

O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) disse que o governo está atento. "Os motivos [do aumento do desmatamento] são conhecidos. O aumento, desde 2012, ocorre pela pressão das atividades econômicas —grande parte ilegais— sob a floresta. Precisamos ver as estratégias e alternativas econômicas na região. Alguma coisa estruturante precisa ser feita", declarou durante entrevista coletiva para a divulgação dos dados.

Salles afirmou, sem dar detalhes, que medidas serão debatidas e anunciadas na próxima quarta-feira em Brasília. "Esse governo tem tolerância zero à criminalidade, também na questão ambiental."

"São várias atividades ilegais, desde garimpos que estão há muito tempo no local, a extração de madeira ilegal que ocorre há muito tempo e a ocupação do solo de maneira ilegal, que também acontece há muito tempo. Vamos ver na quarta-feira com os governadores da Amazônia quais medidas são necessárias, e onde será preciso colocar mais recursos", completou.

Salles ainda foi questionado se o discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), de que os órgãos ambientais multavam demais —e que isso iria acabar em seu governo— não teria estimulado a ação de grupos que desmatam na Amazônia. Ele negou e culpou a falta de verbas pela redução das ações.

"Grande parte do problema de fiscalização vem de deficiência orçamentária, tem nada a ver com isso [com discurso feito pelo presidente]. O que vamos fazer daqui para frente é, com a obtenção de novas ferramentas, é combater as atividades criminosas. O governo não deu ordem de não autuar", afirmou.

Dados mais precisos

Os dados divulgados hoje são do projeto Prodes. Outro monitoramento, o Deter, apontou um desmatamento de 6.840 km² para o mesmo período.

O Deter, porém, é um sistema mensal de monitoramento de desmatamento, mais impreciso. Ele é feito para ajudar nas ações de mitigação dos efeitos, mas é considerado "míope."

Em julho, foram dados do Deter que abriram uma crise no governo Bolsonaro que levou à demissão do então presidente do Inpe, Ricardo Galvão.

"Estamos trabalhando nessa melhoria do sistema, que tem como finalidade de reduzir, como fosse um diagnóstico do médico, e tem todo um tratamento. Esse trabalho é feito pelo Ibama", disse o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

ONG critica governo

Para o diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, o dado divulgado hoje mostra uma situação "inaceitável".

"Os números do Prodes confirmam o que o Deter e sistemas independentes já vinham apontando: o desmatamento vem crescendo vertiginosamente e, se o governo federal não modificar profundamente sua postura em relação ao tema, ele tende a crescer ainda mais no próximo ano, fazendo com que o país retroceda 30 anos em termos de proteção à Amazônia", disse.