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Luciana Bugni

Luísa Sonza e Vitão: uma mulher livre rebolando incomoda muita gente

Luciana Bugni

16/06/2020 04h00

Divulgação

Você pode até ficar assustado, mas o que vou dizer agora não é exatamente uma novidade. Tem gente que ganha a vida para rebolar. Não só para isso, claro. Cantar está dentro do job description (para usar um termo em inglês bem típico do mundo corporativo que nada mais é do que descrição do cargo). Outra atribuição importante é fazer buzz. Isso é mais ou menos como manter todos os holofotes ao seu redor. Manter as pessoas falando de você. Viu, funciona como o seu emprego, aquele em que você rebola apenas metaforicamente.

Tudo isso está no currículo da imensa maioria das cantoras pop que você conhece (o que inclui ter ouvido a voz e visto rebolando). E mais: não há nenhum problema nisso. Pessoas rebolam porque gostam de rebolar e rebolam profissionalmente porque tem gente que consome o seu rebolado. Troque a palavra por qualquer outra atividade professional mais conservadora (vender gasolina/ passear com cães) e perceberá que está tudo ok.

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Chegamos assim em Luísa Sonza, que você conhece não só por ter visto rebolando ou cantando mas também por ter sido casada com Whinderson Nunes, o maior youtuber do Brasil. O casamento dos dois foi sempre alvo de críticas porque, para o público, Luísa usou a fama do marido para subir na vida. De onde tiraram isso eu não tenho certeza, mas deve ser do fato de Luísa ser loira, muito bonita, com um corpaço padrão do rebolado. E Whinderson é só um cara comum. Rico, mas comum. Como se uma mulher com um corpo da Barbie não pudesse amar um cara comum, a menos que ele fosse o maior youtuber do Brasil.

Aí eles se separaram no começo da quarentena. E, pouco mais de um mês depois, ela e o cantor Vitão (que tem esse nome de gente grande, mas apenas 20 aninhos) lançaram uma música juntos, "Flores". Bem, não era qualquer música: bem sensual como pede o repertório pop, ela convida o garoto para passar na sua casa e sugere que vai ficar por cima dele e encaixar. É o que ela faz nos dois próximos minutos do clipe. Encaixada, cantar e rebola em cima dele. É bem quente e talvez um pouco impróprio para crianças. Mas ela está errada? Não. Cada um faz o que quer quando o assunto é ficar por cima de alguém e ligar a câmera (se os dois tiverem consentido, claro).

O público discordou. E fez a típica vingancinha de quinta série em tempos digitais: um mutirão de dislikes no clipe. Enquanto escrevo esse texto, são 3,5 milhões de considerações negativas. Na internet, os fãs de Whinderson revoltados com a "traição"criam perfis falsos para "descurtir" mais. Não posso nem criticar o tempo livre dessa galera, afinal a quarentena acaba deixando muita gente ociosa mesmo. Whinderson se posicionou criticando a atitude de seus fãs – o divórcio deles foi civilizado e amigável e não são milhões de joinhas ao contrário que iriam mudar algum sentimento. Luísa disse que está acostumada com as críticas ao seu trabalho. O número de views do vídeo no Youtube chegou aos 25 milhões em quatro dias. As únicas pessoas que parecem negativamente atingidas de fato são os haters.

Tem muita coisa que não entendo no Brasil de 2020 – algumas gravíssimas, colocam vidas em risco. Mas a organização do ódio na internet é seguramente uma delas. Uma explicação importante: não é porque os artistas estão se pegando na tela que eles estão se pegando na vida real. Podem até estar. Podem não estar. O que nos resta é consumir a arte – ou não consumir, tem essa opção também.

Em tempo: também tenho críticas ao clipe de Luísa e Vitão. Primeiro: eles não parecem estar obedecendo o isolamento social nas gravações enquanto se pegam seminus. Segundo e ainda mais grave: Vitão não levou as flores que Luiza pediu na primeira estrofe da música. Poxa, Vitão. Foi a única coisa que ela pediu para relaxar, sentar, olhar, ficar de quatro e o resto. Custava?

Você pode discordar de mim lá no Instagram.

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.